E eu que queria escrever sobre o mundo, pelo mundo inteiro.. Mudá-lo desde seu eixo de rotação até a decisão de qual roupa você quer vestir pela manhã! Eu que queria revolucionar, ganhar no grito, no riso, no gesto, na graça.. Eu que já quis ser astronauta, escritora, bailarina, bióloga marinha, médica legista, tantas outras coisas poéticas e outras tão descabidas!
Eu que nunca cuidei sequer de uma boneca.. Eu que não tinha paciência para as minhas tartarugas, que era a personificação da intransigência! Eu que já quis fazer tudo certinho.. Eu que repugnava diminutivos, partidos de direita, e todas as mocinhas das telenovelas.. Eu que brigava e perdia pro violão! Eu que sempre fui hiperativa, perfeccionista, egocêntrica e segura de mim!
Eu que nunca soube consolar, nunca soube dizer um não, eu que sempre tinha razão.. Eu que sempre tive as notas mais altas!
Eu que sempre quis ser gente grande.. Percebo hoje no ápice dos meus 164 cm, que eu posso rodar pelo mundo, escrever sobre tudo, mas que isso vai ser apenas minha impressão, minha opinião.. e que ela, por ser minha, ou de um outro qualquer, pode soar bonita, impactante mas não vai te mudar, te moldar ao menos não por mais tempo do que o que você levaria para parafrasear as sete faces do Drummond enquanto passa na janela ao lado seu bonde cheio de pernas..
Hoje sei que a única coisa que se ganha no grito, é uma sensação ridícula de ter 3 anos e uma rouquidão que vai te incomodar durante toda a quarta-feira modorrenta! Descobri que um 10 definitivamente não é tão diferente de um 8,5! Sei também que desde que você esteja apto, e pelo menos 55% satisfeito profissão boa é a que te sustenta, sonho só enche barriga se for bem açucarado e com um belo recheio (recomendo de creme, nunca gostei de goiabada)!
Sei que direita e esquerda se mesclam sem receio quando o interesse próprio requer isso! Sei ser política, mesmo tendo extirpado a política partidária de mim! Eu hoje sei que ninguém vive só, não no sentido de amores, amplie pra amizade, trabalho, faculdade, familia.. Ser egocêntrico não te transforma em mais importante hora alguma, te põe numa vista privilegiada dos piores aspectos que você carrega!
Hoje eu sei cuidar de alguém, e sei agora depois de muito teimar deixar que cuidem de mim, e percebi o quão isso faz bem, sei me importar com um 'estranho', sei confiar sem precisar de muita coisa, sei ouvir, e critico muito menos, sei sorrir por nada, por tudo, às 7 da manhã de uma segunda-feira! E se sob inúmeros aspectos tudo isso 'enfraqueceu' minha personalidade, fragmentou meu estereótipo durona, se é perigoso se manter aberto e com pouca cautela, por outros tantos lados me proporcionou conhecer lugares lindos, pessoas incríveis, sorrisos, lágrimas, sustos.. Me libertou de algumas inseguranças, me garantiu outras! Me fez compreender que as duvidas crescem em progressão geométrica e as respostas vêm em P.A., logo ficou óbvio que não vale a pena perder noites tentando entender aos 18 o que só vai surgir em forma de epifania aos 24!
Me fez perceber que sou muito menos multifacetada que o que eu achava ser, ou do que eu pretendia ser.. E que a vida não é um conto de fadas, mas também não é um jogo de futebol americano! E que eu sou apenas UMA.. Pequena, teimosa, mimada, dona de uma revolução quase tão preguiçosa quanto sem causa, mas que se convence a cada dia de que esse dia já vale a pena só por ter nascido, e que um ângulo de rotação não é tão grandioso se você não consegue girar o mundo de alguém entre os poucos segundos que se faz presente de algum modo!
Eu que sou apenas um reflexo de minhas atitudes, tenho tão poucas ou nenhuma verdade absoluta quanto tinha aos seis anos, tantas quanto provavelmente terei aos cinquenta e quatro! Posso dizer apenas poucas coisas com segurança... uma delas é que a vida nos reserva surpresas e experiências (boas ou não) que não me definem, mas expandem a cada segundo o que sou, o que eu quero, e qual o próximo passo a ser dado.. A outra é que continuarei brigando e perdendo contra o violão!