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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

..quantos por cento "Raul" você acordou hoje?



Volto hoje a narrar a estória de um outro alguém que não eu, coloco aqui e ali minhas ideias, mas vou tentar ao máximo usar meus super poderes de observadora para apenas observar e não modificar com minhas palavras o objeto dessas linhas que vocês lerão na sequência.

Raul é um homem entre Vinte e uns à Trinta e poucos anos, nunca realmente pensei em lhe perguntar sua idade (acho que é melhor assim ou daria espaço para ele perguntar a minha), ele não sei ao certo se está aonde gostaria de estar, com quem gostaria ou no lugar em que sempre sonhou, mas de alguma forma parece satisfeito consigo mesmo.

Eu poderia ter conhecido ele em uma série de situações: através de amigos, passando pela faculdade, em outro país, em alguma festa muito louca, em alguma festa extremamente comportada, atráves de alguma rede social.. Conheci Raul, entretanto, comprando pão e reclamando do tempo, conheci não é a palavra certa, a palavra certa seria notei Raul, porque a partir daquele dia me deparei com ele na faculdade, em festas, nas redes sociais e descobri "n" amigos em comum com ele.

Ele não parecia ser o mais engraçado, o mais popular, o mais inteligente, o mais bonito.. Ele poderia ser qualquer pessoa, e como toda pessoa ele era ninguém até ser notado (porque cada pessoa existe apenas como figurante até um dia ser coadjuvante de um episódio na vida de outro alguém). Mas ainda assim ele continuava aparecendo, resolvi então que isso não era por acaso e prestei mais atenção porque obviamente padrões me chamam atenção.

É muito mais difícil observar e apenas observar homens pra chegar a alguma conclusão. Eles não transbordam sentimentos em expressões, eles não te contam episódios da infância de graça enquanto você espera o suco ficar pronto na fila da lanchonete (salvo raras excessões). Raul era desses!

Descobri que ele cresceu na capital mas teve uma vida bem do interior, de futebol na rua, criado perto da vó, dos tios, dos primos, de namoro na porta de casa, de primeiro porre com vinho da semana santa. Ele foi quase criado só pela mãe, o pai nunca foi muito presente (e embora aparentemente essa ausência não faça muita falta é fator determinante de alguns aspectos na vida dele). Raul é um homem de fé, ele tem fé na humanidade e em seu infinito potencial e nada mais sobre religiões, sobre política sua fé na humanidade o acompanha quando ele acredita e luta pelo justo (sem excessos ou extremos).

Ele, eu descobri depois de mais uns dedos de prosa, tem quase dois ou três eles dentro do ele que a gente vê reclamando do tempo. Ele chora com músicas, palavras, gestos.. não qualquer um, mas os que de alguma forma tocam ele. Ele tem coleções de coisas incomuns, gosta de comer sempre metade de tudo o que você for comer (desde que não tenha que cozinhar) e se tiver, sabe fazer apenas 2 ou 3 receitas (que são muito boas e foram aprimoradas e especializadas com o tempo). Ele gosta de futebol, carros, mulheres mas não é isso a primeira coisa que vem na sua cabeça, embora esse seja o estereótipo padrão.

Se você prestar ainda mais atenção vai ver que ele não ama com facilidade (qualquer coisa, qualquer pessoa), mas quando ama é difícil de explicar e quantificar sua intensidade. Ele não pensa muito (não sobra muito oxigênio pra pensar), ele se doa, ele sente ciúmes, ele sai da zona de conforto sem perceber, ele vive tudo o que tem pra viver daquilo ou com aquela pessoa. Ele sofre quando por ventura as coisas rumam pra um caminho que não deveria. Como quando fraturou um osso do braço perto de uma competição e descobriu que não poderia mais competir ou quando sentiu seu amor por Taís indo embora e se esvaindo a cada briga até não verem saída senão se afastarem um do outro.

Ele pode não saber se faz o que sempre quis, se está com quem sempre quis ou aonde sempre quis estar. Mas eu me atrevo a dizer que essas três hipóteses são impossíveis de alcançar se a gente considerar o quanto as nossas vontades mudam. Não é qualquer pessoa que tem o suporte de jogar tudo pro alto e fazer o que quer que tenha vontade naquele momento, mudar não é apenas uma questão de coragem, na vida real existem tantas incógnitas a serem consideradas antes de concretizar uma mudança coragem é apenas uma das muitas.

Mas Raul é feliz, eu digo, da forma como as coisas estão. Ele levou a vida da melhor forma que conseguiu e chegou aonde ele não imaginava que estaria (mesmo ainda não sendo aonde ele quer ou mesmo sendo completamente diferente do que ele pensou), ele chegou e mais importante ele continua indo.

E agora que aos meus olhos Raul não é mais ninguém, eu enxergo que Raul pode ser e é um pouco de todo mundo. Destacando suas experiências individuais (das quais ainda assim algumas são partilhadas), eu poderia ser ele e ele poderia ser você, porque no fundo todo mundo quer estar em algum outro lugar, com alguém (ou um outro alguém), ou fazendo alguma outra coisa.. ou tudo isso junto! As fundações das nossas satisfações são enterradas em perspectivas do que seria "se..".

Mas depois que a gente virou amigo eu me sinto na liberdade de dizer a ele que tudo poderia ser diferente muito bom ou muito pior. Se ele, eu ou você (já que somos todos Rauls), quiser mudar e puder, tente! Se não, se aceite enquanto protagonista dos seus episódios e viva cada um deles, e ache outros Rauls e continue acreditando nas pessoas, chorando quando sentir vontade, sorrindo quando for de sorrir..

Nunca mais vi Raul, apesar de hoje em dia ver ele em um pouco de cada amigo meu..

Um comentário:

  1. Você não imagina o quanto importante é se ler nas entrelinhas de uma outra pessoa e se enxergar através de suas reflexões. Como sempre, moça, excelentes palavras.

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